mercredi 23 mars 2011

olinda 4 cantos


o sol forte bate nas casas de olinda, olinda 4 cantos, tudo dá uma preguiça
danada. a folia que por aqui ruidosamente passava, agora está silenciada pela amarga monotonia do cotidiano dos dias.
ela desatinou porque o carnaval é doido demais e a vida sem gosto demais, inventar
mundos é preciso.
enquanto a festa e a alegria não voltam, só resta sentar
no cyber dos 4 cantos de olinda e teclar a monotonia dos dias sem carnaval
nas ladeiras ensolaradas que se encontram nos 4 cantos de olinda.

olinda, mesmo assim eu canto a ti essa canção.

vendredi 26 mars 2010

Autonomia.

Voltar a Paris tem um prazer suplementar,
que vem se ajuntar a beleza da cidade,
a mundanidade da cidade,
a calma da cidade,
o ar da cidade.
Voltar a Paris traz de volta
o prazer da autonomia urbana
que somente o veìculo que se chama
bicicleta pode proporcionar.
Não é somente o ar da cara, nem o sol
na cara, nem a cidade nos olhos -
o fugir da claustrofobia dos metrôs e
dos carros.
Ir de bicicleta para cumprir compromissos
cotidianos traz a sensação de autonomia.
As cidades grandes do Brasil, das quais
Recife é somente mas um exemplo de
como não deveriam ser os arranjos
urbanos, põem o cidadão, o usuàrio da
cidade ilhado, perdido, um vagante.
E não somente o pedestre, esse desgraçado
que pouco tem o direito de flanar,
roubado que tem os seus espaços
de andar por aì.
Também quem vai de carro està a cada dia
mais ilhado, na sua ilhinha de lata
e fumaça.
O cidadão de alguma posse vai de casa
prum centro comercial, que ainda
chamam o nome em inglês pra apontar
a sua origem alienìgena, cujo
planeta de origem decidiu eleger
o automòvel como mais um deus.
A cidade no Brasil é um arquipélago
de espaços.
Ter espaços reservados numa cidade
para as duas rodas não motorizadas
permite exercer essa autonomia de quem
tem duas pernas ainda funcionais.
E olhe que nesta presente cidade
é preciso estar atento e forte,
pois motos e carros invadem os
espaços ciclìsticos, às vezes
sem piedade.
O ser humano essa coisa de poder
e a (necessària) restrição do poder,
que tem no trânsito e nas ilhas de lata
o seu exemplo mais vìsivel.

um grito

Ter um blog é como dar um grito no
meio de uma multidão.
Mas esse blog não pretende dar grito, não,
quer ele ser um sussurro,
um divagar sobre sensações, sò.

mardi 2 mars 2010

De Chirico.


esse texto, escrevi depois de ir à grande
exposição de De Chirico hà uns meses
em Paris, no Palais de Tokyo.



Hà algo neste pintor que sempre me interessou. Hoje, na sua exposição, descobri que o me interessa mesmo deve ser a sua fase metafìsica, que foi a primeira, que vai dali do que na exposição é chamado de "Metafìsica de Florença" até a "Metafìsica de Paris". No entanto, acho que mesmo na suas fases posteriores ela não deixa de ser o mesmo De Chirico.
Grandes espaços, onde abundam chaminés, torres, e, com freqüência, trens. E, em meio aos grandes espaços desprovidos de pitoresco e de humanidade, figuras humanas, sem rosto, sem identidade, se veem perdidas. O século XX é De Chirico, sobretudo. E' a expressão de um século, e de um ocidente, que, movidos pela razão geométrica, pela atitude matemàtica, pela supremacia da lògica formam, resumem tudo à impessoalidade, à falta de identidade. Quadros como "A partida da Gare de Montparnasse" atestam essa solidão humana promovida pelo excesso de tecnologia e de construção: não hà ninguém esperando e ninguém partindo, não hà abraços, nem choros, nem amigos se encontrando, somente hà espectros, ao longe, que são mais como manchas indistintas.
E' curioso que De Chirico tenha retomado muitos anos depois essa fase metafìsica com os mesmos temas, "O filho pròdigo", "Hector e Andròmaco" e outros. E' dito na exposição que De Chirico tinha a intenção de purgar o fetchismo desenvolvido ao redor de sua obra anterior. Hà quadros dessa fase que chamam de "replay" que datam de 1975.
E' dito também na exposição que a Paris da época em que o pintor chegou, anos 1910, era completamente tomada por fàbricas e usinas, ambiente que teria influenciado enormemente a obra dele. E de fato, na Paris de hoje pode-se ver os requìcios do que ela era no começo do século XX, com muitos prédios que serviram de local para as fàbricas ainda existindo e sendo bastante visìveis nas sua cores e formas.
"A sombra de um homem andando contém mais mistérios do que todas as religiões presentes, passadas e que ainda estão por vir" - escrito em umas das paredes da exposição.
Também tem um quadro, logo no começo da exposição, que ele pintou ainda estando na Itàlia, que tem um tìtulo assim como "a melancolia do relògio", que mostra um amplo lugar onde um relògio està posto no cimo de um portal e pessoas colocadas umas longe das outras estão ali a esperar (o quê?) e a olhar o relògio. Estranho e tocante.

Fernando Pessoas.

'A porta do cemitério, perguntei
pelo jazigo de Fernando Pessoa.
(Não costumo visitar cemitérios,
alguns acham graça em visitar tùmulos
de pessoas famosas, não vejo o sentido,
mas aqui estou para visitar o tùmulo de
Fernando Pessoa.
Tive morada durante mais de um ano,
aqui pertinho, là se vão muitos anos,
e nunca visitei o tùmulo dele, sabendo
que tinham colocado o seu corpo ali).
Ainda à porta do cemitério,
o interlocutor, funcionàrio do
cemitério, tinha um problema qualquer
de fala, não sei bem se era gagueira,
e a ùnica coisa que
pude perceber do que ele indicou foi que
deveria andar pela esquerda e tomar a ùltima rua à
direita.
Belo cemitério, alamedas, muitas àrvores,
silêncio e solidão.
Aqui neste cemitério, foi costume
durante um tempo não exatamente enterrar
as pessoas, mas colocar as suas urnas
funeràrias em espécies de estantes,
cobertos por véus,
em jazigos com porta de vidro.
Percebe-se, assim, os caixões
ali deixados hà muito tempo nos seus
lugares.
O tùmulo de Fernando Pessoa é desse jeito.
Hà duas urnas numa mesma estante,
um acima do outro, ambas cobertas por amplo véu.
Não foi fàcil achar o lugar, no entanto.
Procurei quem me informasse do lugar
exato, e de tràs de uns tùmulos apareceu
um sujeito, funcionàrio do lugar.
Ele me deu duas informações:
1) "onde Fernando Pessoa foi colocado
não é exatamente o seu tùmulo,
mas o de sua mulher.
2) mas ele não està là", teria sido
removido, não sabia precisar se
para o mosteiro dos Jerônimos
ou se para o Panteão.
De fato, somente hà o tùmulo de
uma tal Dyonìsia Pessoa (a avò?), e uma plaquinha
a dizer que ele também està là.
Ora, sabe-se que Fernando Pessoa
nunca foi casado, nem provavelmente nunca teve qualquer relação
com mulheres.
Se eu sei que a primeira informação està incorreta,
deveria eu acreditar na segunda?

Lisboa, passar.

Desço a Prìncipe Real até ao Cais do Sodré,
queria ver ali a tal estàtua do libertador da
cidade.
Pego por ali o bonde 28, que vai me levar
ao cemitério dos Prazeres.
Lisboa tem dois cemitérios cujos nomes parecem
debochar da morte.
Um dos cemitérios se chama Benfica,
o outro, Dos Prazeres.
Neste ùltimo, està enterrado
Fernando Pessoa.

Lisboa é uma pessoa.

Cidades hà que mais se parecem
com pessoas, caràter definido,
comportamento ùnico, corpo seu,
tem olhos (nos olhos estão a comprovação de
uma consciência e de uma alma) e ouvidos:
a cidade respira como gente, tem divagações,
saudades e sente falta de coisas e de pessoas.
Lisboa é uma dessas cidades.
Também é o seguinte, no seu corpo, pouco se
toca, a baixa é a baixa, o bairro alto continua,
jà hà algum tempo limitado aos carros,
a Alfama ali està, as suas ladeiras, os seus
becos, escondidos e perenes.
Lisboa vai levando a vida lentamente,
se espreguiçando à beira de seu rio,
tão perto do mar que, embora fora das vistas,
sente-se, pressente-se através do Tejo.
Lisboa deixa-se percorrer o corpo,
andar, se perder, voltar caminhos.
Deixo o ônibus pra tràs, na praça do Comércio,
atravesso o Rossio, e
subo pelo Chiado, meus olhos sempre a percorrer a
tristeza da cidade, Lisboa parece estar sempre a
derramar uma làgrima.
Uma Bock na Brasileira, pastéis, bolinhos
de bacalhau, tenho impressão que os
portugueses não chamam bolinhos de bacalhau,
mas um outro nome, que não lembro, ou talvez não saiba.

Lisboa, o sol.

A cidade de Lisboa tem muito o quê ver,
assim como muito o que comer e beber.
Oras, oras, cervejolas à beça para beber,
uns comes maravilhosos ali nos balcões
dos bares, e perscrutando a vida alheia.
Dia maravilhoso de sol, quando Paris
estava imersa numa escuridão assutadora,
nuvens cinzas, e um frio de lascar.
A luz solar é, em Lisboa, total
contraste com a de Paris, ela explode
as cores num brilho ofuscante, òculos
de sol nela.

Lisboa, flanar.

A viagem de Paris a Recife pode comportar uma parada
para baldeação em Lisboa.
O avião sai de Orly às 7 da manhã, chega a
Lisboa aì pelas 9 e tal.
O voo para Recife sò vai acontecer às
16:45 hs; tempo suficiente para sair do
aeroporto, e para isso Lisboa é "matar pra roubar".
Pega-se um ônibus ali mesmo na calçada
do aeroporto, com direito a pegar
outros e bondes e metrôs da cidade inteira
de Lisboa, e pelo dia inteiro, custa 3 euros, e ainda
dà direito a voltar ao aeroporto na calma e sem vexame.

jeudi 5 juin 2008

Primavera e fotos.


Fim de tarde nesta Paris cinzenta, cada quarta-feira,
a Maison Européenne de la Photographie" oferece a
entrada gràtis pra quem quiser ver essa exposição de
Georges Rousse, um artista Francês que intervém
em prédios abandonados, criando novos ambientes
dentro dele.

'A primeira vista, parece que ele faz tudo com Photoshop,
mas logo se vai notando a amplitude do seu trabalho.
Rousse e uma equipe de voluntàrios pintam os interiores
engandando a vista, criam formas sòlidas em 3D apenas
com tinta e pincel. Um filme no subsolo mostra o artista em
pleno trabalho, com sua equipe, a a complexidade do que
ele realiza. Genial e bonito, dois conceitos, parece, cada dia mais
difìceis de se encontrar nos dias de hoje.

Confiram o site da "maison":
http://www.mep-fr.org/default_test_ok.htm

Fica situado numa àrea muito interessante do Marais,
o bairro que concentra muita galeria de arte e muitos
bares interessantes. A um passo da catedral de St. Paul e
da praça de Vosges.

mercredi 4 juin 2008

primavera II

"A primavera se aproxima do verão, e no entanto vai se
parecendo cada dia mais com o outono".
Esse tipo de conversa se ouve de qualquer vizinho com quem
se cruza no pàtio do edifìcio. Mas não deixa bem de
ser verdade, o dia do começo oficial do verão serà em
vinte dias, dia da mùsica em Paris, dia 21, de qualquer dia
da semana.
Enquanto se espera que a primavera encerre a sua crise
de identidade e se pareça mais com primavera, o melhor
é esquecê-la e levar a vida adiante.
Tarde de chuva fina, tarde de céus de chumbo, tarde
de bicicleta e de museu D'Orsay.


Bicicleta, Velib, da République até o museu, uma pedalada de
uma meia hora. E' bom quando o tempo não està firme, pois
sobram mais bicicletas nas estações, menos gente se arrisca no pedal.
Ir de bicicleta ao museu é um dos pequenos prazeres desta
cidade, onde jà não hà tantos pequenos prazeres assim.
Museu D'Orsay, à beira do Sena, antiga estação de trem,
grandes relògios na fachada, um deles faz as vezes de decoração
para o café no quinto pavimento.
O museu oferece uma perspectiva interessante do Impressionismo
ao situà-lo no tempo em que surgiu. Curiosa a agitação de todo
mundo neste museu. Penso aqui comigo que neste museu parecem
todos se identificar com as suas imagens de uma maneira muito ìntima.
A sala de Van Gogh, no quinto pavimento, é a mais cheia e a mais
agitada. Descobrem todos o irmão perdido, a imagem perdida, descobrem
o que lhes faltava a vida inteira. E de uma certa maneira, aquilo tudo
é mesmo parte da vida de todos; aquelas imagens modificaram profundamente
a maneira como vemos o mundo, e como imprimimos o mundo em telas,
em fotos, em publicidade. Tudo virou um neo-impressionismo patente,
e dele não conseguimos nos desvencilhar, e aì a sensação de familiaridade extrema.
Não deixa de ser por isso que hoje hà uma exasperação em tudo fotografar no museu; fotografam-se telas, estàtuas, tetos, até as tabuletas com os comentàrios em cada obra; a famìlia se posta membro a membro diante de algumas das obras. O resultado
é que fica difìcil contemplar, a era digital da overdose de imagens
e da reprodução da imagem ajudou a aumentar esse alvoroço por captar e
captar incessantemente.

Das telas do museu, a minha sempre favorita é mesmo essa do "Bal du moulin
de la gallette", de Renoir. A reprodução dessa tela não faz jus ao que
ela é de verdade, ali presente diante dos olhos. O ar festivo, de conversas
ao ar livre, as cores, tudo passa uma felicidade difìcil de encontrar
nesta primavera incipiente de Paris. E a faz esquecer.

mardi 3 juin 2008

primavera

o tempo passa, o tempo passa na minha cabeça que bole,
que sai por aì pra ver coisas,
saudade é um sentimento estranho, pois que tem a ver com espaço,
e tem a ver com o tempo.
saudade é uma maneira de estar no mundo e de
confundir tempo e espaço, problema de
integração dos dois dados do mundo, dirão certos
especialistas em cognição,
mas sò quem tem saudade sabe do que se trata,
e saudade tem graus de variância, saudade maior e
saudade menor, as saudades se misturam na cabeça,
e o ser vai se definindo assim, saudade sobre saudade,
que se redobram umas sobre as outras e se apagam,
e se somam, e se renomeiam,
e se sobrepõem se confundindo, mascarando umas as outras.
saudade não se escreve em inglês, nem em francês,
saudade não se escreve em documentos oficiais,
em papéis, em carimbos, em duplicatas com a firma reconhecida...
a saudade não existe na burocracia oficial, nos papéis timbrados
deixados em pastas bem-mal arrumadas e organizadas,
as saudades se escrevem em papel de pròprio punho,
em làgrimas borrando a tinta da caneta que as escreveu,
as saudades se escrevem nas làgrimas limpadas assim
como se não tivessem lugar em camisas brancas e suadas,
as saudades vão se escrevendo em pequenos atos e destratos
pela vida afora, a saudade é aquilo que preenche espaços,
e por preencher espaços (que existem, que existem)
as saudades são sòlidas, e são saudades de coisas
sòlidas: uma voz, uma mão a enfatizar um pensamento,
um gesto que identifica uma presença, um rosto que sorri
e um rosto que chora, saudades são saudades de mùltiplas coisas,
antes de serem saudades de uma coisa sò.
saudades são sòlidas, mas saudades não se perdem, são invisìveis,
não se vêem, apesar de sòlidas e constantes e presentes,
saudades são o que fica,saudades são o que nunca irà,
saudades são o sucedâneo (esta palavra aprendi com ele, me lembro do momento
exato em que a aprendi),
saudades são o sucedâneo da coisa em si,
saudade não passa de saudade, mas como dòi!
 
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