mercredi 4 juin 2008

primavera II

"A primavera se aproxima do verão, e no entanto vai se
parecendo cada dia mais com o outono".
Esse tipo de conversa se ouve de qualquer vizinho com quem
se cruza no pàtio do edifìcio. Mas não deixa bem de
ser verdade, o dia do começo oficial do verão serà em
vinte dias, dia da mùsica em Paris, dia 21, de qualquer dia
da semana.
Enquanto se espera que a primavera encerre a sua crise
de identidade e se pareça mais com primavera, o melhor
é esquecê-la e levar a vida adiante.
Tarde de chuva fina, tarde de céus de chumbo, tarde
de bicicleta e de museu D'Orsay.


Bicicleta, Velib, da République até o museu, uma pedalada de
uma meia hora. E' bom quando o tempo não està firme, pois
sobram mais bicicletas nas estações, menos gente se arrisca no pedal.
Ir de bicicleta ao museu é um dos pequenos prazeres desta
cidade, onde jà não hà tantos pequenos prazeres assim.
Museu D'Orsay, à beira do Sena, antiga estação de trem,
grandes relògios na fachada, um deles faz as vezes de decoração
para o café no quinto pavimento.
O museu oferece uma perspectiva interessante do Impressionismo
ao situà-lo no tempo em que surgiu. Curiosa a agitação de todo
mundo neste museu. Penso aqui comigo que neste museu parecem
todos se identificar com as suas imagens de uma maneira muito ìntima.
A sala de Van Gogh, no quinto pavimento, é a mais cheia e a mais
agitada. Descobrem todos o irmão perdido, a imagem perdida, descobrem
o que lhes faltava a vida inteira. E de uma certa maneira, aquilo tudo
é mesmo parte da vida de todos; aquelas imagens modificaram profundamente
a maneira como vemos o mundo, e como imprimimos o mundo em telas,
em fotos, em publicidade. Tudo virou um neo-impressionismo patente,
e dele não conseguimos nos desvencilhar, e aì a sensação de familiaridade extrema.
Não deixa de ser por isso que hoje hà uma exasperação em tudo fotografar no museu; fotografam-se telas, estàtuas, tetos, até as tabuletas com os comentàrios em cada obra; a famìlia se posta membro a membro diante de algumas das obras. O resultado
é que fica difìcil contemplar, a era digital da overdose de imagens
e da reprodução da imagem ajudou a aumentar esse alvoroço por captar e
captar incessantemente.

Das telas do museu, a minha sempre favorita é mesmo essa do "Bal du moulin
de la gallette", de Renoir. A reprodução dessa tela não faz jus ao que
ela é de verdade, ali presente diante dos olhos. O ar festivo, de conversas
ao ar livre, as cores, tudo passa uma felicidade difìcil de encontrar
nesta primavera incipiente de Paris. E a faz esquecer.

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