dimanche 15 juillet 2007

Bicicletas em Paris





A grande novidade deste fim de semana, na verdade, são duas.

A primeira é, sem dùvida o começo do verão.
Até aqui, depois do solstìcio de verão, ali pelo dia
21 de junho, somente tìnhamos tido dias que mais pareciam com dias
de fim de inverno.
Desde então, casacos pra todo mundo e muita reclamação.
Até que ontem as temperaturas subiram e hoje é um dia tìpico de verão.

A segunda novidade na cidade é o começo, hoje, do "Velib".
O "Velib" é a democratização do uso da bicicleta na cidade.
A coisa funciona a partir de uma assinatura ao produto por mòdicos
29 euros por ano. O cidadão tem o direito de rodar com a bicicleta
("velo", em francês) durante meia hora gratuitamente,
o tempo do seu trajeto de um lugar a outro na cidade.
O sistema é todo automàtico, para liberar o "velo" (se diz "velô")
passa-se o cartão de assinatura no ponto de estacionamento e
a bicicleta està liberada.
Tem fotos aì, e mais sobre o sistema nos dias
que virão.

mardi 1 mai 2007

Pont des Arts











Este é um dos lugares mais bonitos de Paris, a "pont des Arts", uma ponte de pedestres sobre o Sena. A ponte (em francês, ponte é uma palavra masculina) fica situada em frente ao Louvre. Dali, tem-se uma vista privilegiada da "Île de la Cité", a ilha onde fica a catedral de Notre-Dame.
A ponte foi inaugurada em 1804 e um acidente com uma "peniche" a inutilizou em 1970. Foi reconstruìda no começo dos 1980 nos mesmos moldes da original.
E' um lugar especial para ver o tempo passar e tomar banho de sol nesta primavera parisiense. Lugar preferido para pique-niques e encontros nos fins-de-tarde, a "pont des Arts" tem o solo em madeira e bancos na sua parte central.

dimanche 29 avril 2007

Festival do cinema brasileiro em Paris


Antes tarde do que nunca, está acontecendo por estas bandas o festival de cinema brasileiro. A edição deste ano acontecerá pela primeira vez em dois cinemas.
A primeira semana, na maior sala do cinema "Arlequin", que fica entre St. Germain-des-prés e Montparnasse, na rue des Rennes.
A segunda semana, reservada aos documentários, será no cinema "Latina", uma sala dedicada a filmes vindos da américa latina. Ela fica no Marais, na rue du Temple.
O festival é muito bem organizado, os filmes são bem escolhidos. Os organizadores trazem sempre diretores, produtores e artistas para debaterem com o público no fim da sessão. Oportunidade para os brasileiros daqui de verem o que de melhor é lançado no cinema brasileiro. O público vota o seu melhor filme, e há um juri para o melhor filme, o melhor ator e atriz do festival.

mercredi 25 avril 2007

Paris e o cinema


Paris, além de outras qualificações, também é a cidade do cinema. Retratada em centenas de filmes, ainda é muito comum andar por aí e encontrar um filme sendo rodado, a equipe pedindo, gentilmente, que se atravesse a rua para não atrapalhar a filmagem da cena. A logística é das mais complicadas para rodar uma única cena de alguns minutos numa rua de Paris.
Quando ainda não morávamos nesta cidade, e quando a visitávamos pela terceira ou quarta vez, descobrimos um lugar que não conhecíamos, um pátio onde se pode assistir ao mesmo tempo a várias aulas de dança sendo ministradas, cada uma numa sala, em diversos andares dos prédios ao redor do pátio: balé clássico, flamenco, samba, e quantas mais. Aquela mescla de ritmos e sons, tudo ao mesmo tempo, transmite a quem visita o lugar pela primeira vez uma alta dose de irrealidade . Depois descobrimos que se tratava do centro de danças do Marais. De retorno à casa, um antigo filme em preto-e-branco na tevê no meio da madrugada mostrava justamente aquele pátio que houvéramos visto na visita a Paris, e nas mesmas condições, com vários grupos aprendendo e ensaiando danças diversas.

Além de ser uma cidade muito retratada em filmes, Paris também é uma cidade que possui muitas salas de cinema. Elas devem ser bem umas quatrocentas, sem contar com as salas dos subúrbios. Há as salas de cinema tradicionais por todo o lado, as antigas, que foram protegidas da extinção através de patrocínios dados pelas prefeituras da cidade. Mas, também há as cadeias de salas multiplex. E uma dessas cadeias, a mk2, oferece filmes ditos de arte e filmes mais ou menos obscuros, de cineastas iranianos, argelinos, chineses, mexicanos e até mesmo brasileiros. As entradas são caras, mesmo levando em consideração que estamos na Europa. No entanto, estas cadeias de salas de cinema oferecem um tipo de assinatura mensal na qual, pelo preço de duas entradas, em torno de vinte euros, uma pessoa assiste livremente a quantos filmes quiser, é só mostrar a carteirinha e pegar o bilhete. Uma delícia para quem, como nós, é cinéfilo e ainda mais de carteirinha.

lundi 23 avril 2007

Eleições III

Democracia é uma forma de regime político que dá trabalho.
O cidadão tem que se preocupar com quem pretende ocupar os postos do governo, tem que sair de casa pra colocar seu voto na urna, depois tem que se preocupar com os resultados, e, quando o governo toma posse, o cidadão precisa estar de olho no que estão fazendo. Por tudo isso, a democracia parece ser uma coisa caótica, onde todos que tomam posse parecem só fazer besteira. É por isso que muita gente prefere um governo autoritário, que cuide deles, um governo que tenha uma aparência de ser mais "limpinho", onde as coisas não pareçam tão confusas e um Estado onde não se precise fazer tantas escolhas.

Aqui, Paris, domingo de tensão, tensão sobre os resultados, que finalmente excluíram o gaulês de ultra-direita, que se diz o verdadeiro francês. Ora, pra mim, que sou estrangeiro por essas bandas, o espírito francês que vejo predominar aqui é o da abertura para o mundo, o francês está interessado com o que se passa além fronteiras, é uma cultura aberta, a francesa, e trata-se de um povo que tem muito o que dar ao mundo. Por isso, esse candidato de extrema-direita cheira a mofo porque quer uma França isolada, isolada até da própria Europa, ora vejam só. E taí o resultado dele, uns míseros 11 por cento, e a maioria destes que votaram no sujeito é composta provavelmente de pessoas que votam por um certo protesto. Também votam nele por ele ser bom de tevê, ele vem e diz um monte de sandices, mas de uma maneira que convence o telespectador. Sempre foi assim na história desse mundo, o melhor contador de histórias leva as batatas. Desta vez, ele angariou algumas e voltou pra casa.

Para o segundo turno, então, temos a candidata dos socialistas e o candidato que todos chamam de "conservador". Como, conservador? O que ele não quer é justamente conservar, e conservar o que a França tem de melhor. E o melhor, por estas paragens quer dizer, dentre outras coisas, o acesso de todos a uma ótima educação, e que tem muito a melhorar; é um Estado previdência, que apesar de precisar de certas reformas, pra este candidato ele não existiria. Curioso, pois que a influente revista britânica "The Economist" apóia esse candidato da direita justamente pelo seu potencial reformador. Essa revista tem nos seus pressupostos a diminuição do Estado a um tamanho mínimo, a redução conseqüente do monopólio estatal e o aumento da competitividade da economia. Assim, este candidato seria perfeito para executar as reformas necessárias à França, segudo a revista.
Mas, aqui pra nós, é uma coisa amedrontante uma plataforma política que pretende mais polícia e menos educação. Uma plataforma política que quer a universidade trabalhando em pesquisas "produtivas" - pesquisas que sejam criatórios de dinheiro - e não pesquisas como livre exercício da mente humana para a compreensão do mundo.
E é amedrontante uma plataforma política que tem menos em conta o povo que mora em subúrbios desfavorecidos.
Uma país precisa é de mais educação, mais livros, mais cultura, mais poesia, mais comida, mais espaços verdes, mais disso e menos de governantes interessados na sua própria classe social. Haja vista o nosso caso no Brasil.
Esperemos pelo segundo turno.

samedi 21 avril 2007

Eleições II / Elections II


A França é um paìs doce.
A leste, os Alpes, a oeste, o mar e os Pireneus, ao sul, ah!, o sul da França!, o mar e os Alpes, a França é um paìs fàcil de conhecer, a sua natureza é fàcil, o clima é doce.
A estrutura, a infra-estrutura, do paìs é sem-igual, auto-estradas em perfeitas condições cruzam o paìs em todos os sentidos, estradas departamentais, estreitas e tranqüilas, por entre a mata, e sistema ferroviàrio que funciona como um bom relògio.
O transporte pùblico - ele é pùblico mesmo, as empresas são estatais e visam o interesse pùblico, antes do lucro - funcionam sem problemas e não dão vexames aos passageiros.
O sistema educacional francês ensina as pessoas a ler livros, e os livros estão presentes em todo lugar.
A comida é excelente, o vinho é o melhor e barato, as gôndolas nos supermercados exibem produtos de qualidade por preços acessìveis.
Nunca este paìs teve tantas àrvores na sua història moderna, diz-se que hoje a França tem tantas àrvores quanto na sua idade média.

É esse paìs que resolveu se estressar, que se acha em franca (!) decadência.
Amanhã, domingo, os franceses vão colocar no segundo turno das eleições um candidato que conseguiu convencê-los de que a França tem problemas graves e que estes precisam de soluções radicais.
O povo é um animal assustado.

France is a sweet country.
To the East, the Alps, to the West, the sea and the Pyrennes, to the South, oh!, the South of France!, the sea and the Alps,France is an easy country to visit, its nature is easy, its climate is sweet.
Its public transports - and it is really public, the transport companies are state-owned and exist for the benefit of the passengers, not for profit - work without problems and they are no shame for its users.
The French education system teaches people to read books, and the books here are ubiquitous.
The food is excelent, and the wine is the best and very cheap. In the supermarkets you can find high-quality products for affordable prices.
Never in its recent history had this country so many trees, and it is said that France today has more trees than in its middle age.

That is the country which decided to become stressed, which thinks of itself as in frank (!) decadence. Tomorrow the French will elect to the second round a candidate who succeeded to convince them that France has severe problems which demand radical solutions.
The people are a frightened animal.

vendredi 20 avril 2007

Canal Saint-Martin



O Canal de Saint-Martin tem sofrido uma série de ameaças
à sua, vamos dizer assim, sobrevivência como um canal
aberto e como uma àrea de lazer da população que habita
as suas margens e os seus arredores.
Havia um antigo plano de fazer passar uma avenida expressa
por cima dele. Plano que foi no começo dos anos 2000
combatido pela associação local dos moradores.
Conseguiram o que queriam os moradores e o canal se tornou
aquilo que é a sua vocação, ou seja, lazer e atmosfera.
A associação brigou mais ainda e conseguiu a ampliação de
um parque que fica em uma das margens do canal. Além disso,
ganhou também a interdição da circulação de automòveis
aos domingos.
Hà sempre coisas acontecendo nas margens do canal: feiras,
teatro, mùsica, almoços comunitàrios.
O canal é curioso pois é dotado de eclusas para a passagem
de barcos, inclusive para a passagem de barcos de turismo,
que saem da "Bastille" em direção a "La Villette".
Começo de primavera e durante todo o verão, o canal
é lugar de encontros, pique-niques e conversas até altas
horas da noite.
Recentemente, as margens do canal Saint-Martin foram
tomadas por pessoas sem-abrigo da cidade de Paris
e que aì se instalaram com barracas de camping cedidas
por organizações tais quais "médecins sans frontières".
O canal sai da "Bastille" e percorre dezenas de quilômetros,
e muda de nome segundo o local, o de Saint-Martin
fica a um passo da praça da République.

mercredi 18 avril 2007

eleições


Não queria fazer comentários sobre as eleições que
se aproximam aqui na França.
Não é porque um estrangeiro não deva, nem possa,
ter opiniões sobre o processo político do país onde
calhou viver. Não é isso, não.
Eu sei que muitas vezes um estrangeiro vê coisas
que alguém da terra não vê, este já míope para
certas coisas e idéias sobre seu país.
Mas, se assim é verdade,por outro lado a um
estrangeiro falta uma certa vivência com o que
aconteceu em um passado recente na sua terra de
adoção e isso pode implicar numa opinião às vezes
atabalhoada e equivocada sobre o que se passa.

Tem uma outra coisa também, que tem a ver com o
gênero de proposições políticas que a gente ouve por
aqui e que metem um medo danado.
Foi nas eleições de 2002, cujo o tema, o mote que
dominou e que puxou todos os debates que foi o da
(in)segurança.
Incrível, para um país que apresenta números de
violência tão baixos e cujas ruas mesmo das maiores
cidades são quase absolutamente seguras.
Segurança não é, nem de longe,o maior problema por
aqui.
O que mete medo é a guinada da política para
um estado policialesco.
Hoje, em Paris, o policiamento é ostensivo, há policiais
pra todo lado, de bicicleta, a pé, e em viaturas sempre
com a sirene ligada. Também apertou a política com
relação aos estrangeiros que aqui vivem, e a eles é
dada parte da culpa do desemprego, que atinge níveis
importantes para um país europeu.

Uma curiosidade das eleições daqui fica com esses
paineis que são colocados em toda a parte pela
prefeitura a fim de evitar que os candidatos sujem
os muros da cidade com seus cartazes.
Também não há carros de som a anunciar os nomes
dos candidatos, nem comícios barulhentos.
No máximo, panfletagens silenciosas em pontos
estratégicos.

Mas, eu vou voltar ao tema nesses próximos dias,
com a chegada dessas eleições que prometem ser
a maior surpresa das últimas décadas na França.
Um candidato de direita que se fortalece mas que
não consegue se livrar de uma imagem de rigidez
em excesso, uma candidata socialista que às vezes
parece que não vai engrenar, um candidato que se
diz de centro mas que ninguém sabe a que veio,
e o candidato de extrema-direita que disputou com
Chirac o segundo turno das últimas eleições.
Esses são os quatro candidatos que estão na frente,
e, atrás deles, tem mais uns dez de várias tendências
e que estão ali mais pelo jogo do que para ganhar.

mardi 17 avril 2007

Caminhando...



Este último fim de semana foi atípico, já estamos nos acostumando a falar essa palavra “atípico” nos referindo ao clima aqui em Paris.
E provavelmente, este será o caso das pessoas que habitam
outras paragens.
Como dizia, este fim de semana foi atípico porque foram dois dias
tipicamente de verão quando ainda estamos ensaiando a primavera, que chega aos pulos para entrar definitivamente em cena. Foram dias bons para flanar.
Fomos dar uma volta pelo quartier do antigo mercado de Beauvau.
Aos domingos, como a maioria, somos devagar e chegamos já com o
mercado fechado, mas voltaremos para a fazer a feira por aqui.
Em volta do mercado, há qualquer coisa que faz lembrar uma cidade
espanhola, a maneira como estão dispostos os bares, talvez, mesas
nas calçadas, a tarde escorrendo pelas ruas. Voltamos pela Bastille,
e de novo o Marais com a sua movimentada rua des Francs Bourgeois.


dimanche 15 avril 2007

comer no Marais


Continuando em frente pela rua Payenne, logo ali
depois da "Chapelle de l'Humanité", entra-se na
rua Pavée, onde tem um restaurante judeu - Pitzman.
Ali serve-se comida casher.
É o lado do Marais onde se concentram restaurantes,
lojas, livrarias e negócios judeus. Ao lado do Pitzman,
fica a sinagoga, obra de Hector Guimard,
arquiteto Art Nouveau.

Lugar tranqüilo para se comer, o Pitzman fica a
um passo da estação de metrô St Paul.
Além do falafel, há nesse restaurante umas pizzas de
farinha biológica deliciosas, servidas com muita verdura.
O dono e os garçons são todos judeus religiosos e sempre
portam o Kipar na cabeça.
Numa tela, projeta-se a imagem do muro das lamentações
de uma web câmara ao vivo.

do quartier du Temple ao Marais

Do “quartier du Temple”, atravesso
a rua de Bretagne e chego ao Marais,
um bairro tranqüilo na margem
direita do Sena.
É lá que estão o museu Picasso e o
Carnavalet, esse último dedicado à
história de Paris.
Perco-me no labirinto das suas ruas e
entro na rua Payenne.




É aqui onde fica a "Chapelle
de l'Humanité", Capela da Humanidade. Trata-se de um templo positivista, isso mesmo,
um templo laico dedicado ao futuro da humanidade.
Veja o bordão exibido na fachada no templo,
e como ele é familiar para nós, brasileiros:
"O Amor por princípio, a Ordem por base, o Progresso como alvo".




À época da proclamação da república, os ideais positivistas estavam
muito em voga no Brasil e terminamos por adotar esse lema.
Eram positivistas boa parte dos abolicionistas e dos principais
fomentadores da república.
O que é interessante é que quem escreveu na bandeira parece que
esqueceu do "amor", que amolece o lema, e ficamos com a parte, mais
dura e que soa autoritária, da "Ordem" e do "Progresso".

A "Chapelle de l'humanité" tem no andar de cima um lugar de culto,
parece uma igreja como qualquer outra, mas com bustos de homens
notáveis. Publico, em breve, quando de novo estiver comentando o Marais, algumas fotos lá de cima.
O andar de baixo tem uma sala para exposições, geralmente de artistas
brasileiros ou que guardam relação com o Brasil. Sebastião Salgado,
o fotógrafo brasileiro, está entre os que já expuseram na Chapelle de l'Humanité.

samedi 14 avril 2007

Pelas ruas de Paris



comer em St-Gemain-des-prés


Lugares pra comer há em profusão em Paris, mas quem mora
numa cidade tem sempre os seus favoritos.
A comida, sim, é importante, mas, também o lugar, a simpatia
de quem atende, a atmosfera.
Este restaurante aí da foto, freqüentamos vez por outra.
Localizado em um dos lados do antigo mercado de St. Germain.
Melhor neste começo de primavera, as mesas descem para a
calçada, o ar límpido e fresco, a tranqülidade da rua Mabillon.
Restaurante italiano, massas e pizzas, pratos a 12, 13, 14 euros.
Uma alternativa de vinho mais em conta é pedir o "pichet"
de "rouge", de "blanc" ou de "rosé".
Quando não há água St. Pellegrino, pedimos mesmo "une carrafe
d'eau", que é gratuita.
Ah!, na foto, as pessoas em pé estão esperando a vez de se
sentarem, mas tudo muito amistoso, e ficam bebericando um
vinho por ali.

Veja a foto e o link no título para a localização no mapa.

Usos do verbo "flanar" II

Flanar para alguns parecerá pura perda de tempo.
Ziguezaguear pela cidade sem objetivos definidos
será para estes sobretudo anti-produtivo.
E aí está a palavra que define esta nossa época:
produção.
Tudo o que se faz hoje tem de ter o objetivo claro
de produzir algo de útil, algo que vá servir pra
alguma coisa - ganhar dinheiro, por exemplo.
Essa maneira de ver o mundo tem contaminado tudo,
tudo no mundo moderno, desde a mídia (ou “os média”,
como dizem melhor os portugueses) à maneira de
produzir alimentos, dos livros que se publicam até a
maneira de educar as crianças.
Desse modo, flanar parece aos olhos de um expectador
moderno como anacrônico, inútil, como coisa de
vagabundo, que não tem o que fazer.
O turista – olha ele aí de novo – visita a cidade de
uma maneira produtiva, ele corre de monumento a
monumento até perfazê-los todos, nada de ficar errando
por aí na cidade improdutivamente.
Por tudo isso, flanar pode soar até subversivo, destruidor
da ordem pública, corruptor dos nossos valores morais,
anti-ético, e, quem sabe, até, revolucionário, tomado no
seu pior sentido.
Assim, com todo esse estímulo, afirmo-me mais e melhor
como um legítimo e convencido “flâneur”.

jeudi 12 avril 2007

do Faubourg du Temple ao "quartier du Temple"




Saio de casa a pé em direção à praça da République. Desço a rua du Faubourg du Temple e cruzo o canal de St. Martin exatamente no ponto que divide a sua parte coberta de sua parte ainda a céu aberto.
O canal servia de escoadouro aos produtos manufaturados nas suas margens em direção ao Sena (“La Seine”, para os franceses, o Sena é feminino) e Haussmann, no século XIX, começou a
cobrir a parte que vai da Bastille até a rua Faubourg du Temple.

Chego à praça da République e atravesso uma das passagens
de Paris – são inúmeras na cidade.
Trata-se de galerias onde há inúmeros serviços, restaurantes,
lojas. A da République se chama “Passage de Vendôme”.


A passagem de Vendôme provoca uma mudança abrupta: do barulho da praça, mergulho no silêncio da rua onde fica a redação do Libération, o jornal de esquerda fundado nos anos 1970 por Sartre e outras figuras da esquerda francesa da época.
Estou dentro do antigo “quartier du Temple”.
O “quartier du Temple” uma vez foi a cidadela dos Templários,
a ordem militar e religiosa que esteve envolvida nas guerras
das cruzadas na Palestina.



A cidadela dos templários era um semi-estado dentro de Paris,
com a sua própria polícia, justiça e governo.
Dizia-se na sua época que era o lugar mais seguro e protegido na
cidade. O bairro de hoje ostenta vários nomes de logradouros que
fazem referência aos Templários: a rua du Faubourg du Temple,
a rua du Temple, a rua Vieille du Temple, a praça do Temple, o
mercado du Temple e, claro, a estação de metrô do Temple.
Não resta mais nada da época dos templários além dos nomes dos
logradouros.
No entanto, no “donjon” da cidadela , que era uma espécie de
castelo incrustado na muralha para a defesa, a família real do
rei Louis XVI ficou presa à época da revolução francesa.
O rei lá ficou até a sua execução, Maria Antonieta ainda ficou
uns meses no lugar e o filho, que seria Louis XVII, o chamado
“dolphin”, que tinha 10 anos na época, provavelmente morreu
de tuberculose.
Há às vezes uma cartaz e flores que alguém põe no lugar dizendo
“que neste lugar uma criança foi encarcerada e morta de maneira
cruel”.




A primeira dessas placas é o padrão daquelas que a prefeitura de
Paris coloca junto a monumentos históricos.
Ambas as placas estão localizadas no lugar onde era o "donjon", ou a
torre, do Templo.
Hoje é a prefeitura do "arrondissement" 3 (um arrondissement é uma divisão em comunas da cidade, e em Paris elas são em número de 20).

Usos do verbo "flanar"

Flanar.
Muita gente já tentou definir a atividade.
Mas, flanar é mesmo sair por aí na urbe atrás da
surpresa, do desconhecido.
Flanar significa também vagabundear, porque não
inclui roteiros definidos, mas é mais
do que isso: é vagabundear com um espírito
aberto e curioso.
E flanar é o que há de melhor para fazer
nos dias ensolarados de Paris.

Blog de Ricardo Noblat

Tivemos a honra de ter o nosso blog
publicado ontem, 11 de abril,
na seção "Vale a pena acessar" do
blog de Ricardo Noblat.
Obrigado, Noblat!

Vejam:
blog do Noblat

mardi 10 avril 2007

O morador



Esse aí é um morador da rua du Faubourg du Temple,
perto de République.
Ele é o mascote do "Palais des Glaces", um teatro
do bairro, onde se apresentam sobretudo comédias.
Há quem diga que se trata "dela", o que acha o leitor?



Como novidade neste blog, localize-se no mapa de Paris acima.

O espírito da cidade

Este texto aí embaixo é sobre

uma exposição -
"O espírito da floresta" -
a respeito dos Yanomâmis,
que ocorreu em 2004 aqui
em Paris na fundação Cartier.

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Claustrofobia.
Não se pode ser claustrófobo e morar numa cidade como Paris.
O primeiro item que desabona um provável portador desse
estado patológico é a moradia. Como qualquer pessoa comum,
terá de se contentar com uns meros 30 m2, pouco mais,
pouco menos, de um estúdio qualquer, talvez perto da praça
République.
Se tiver muita sorte, terá uma bela vista sobre Paris,
Notre-dame e torre Eiffel incluídas e nenhum vizinho a lhe
incomodar o juízo.
Mas, aí tem aperto. O estúdio mal caberá uma cama, a
televisão e seus queridos livros, pouco mais, pouco menos.
Os – poucos - armários estarão abarrotados com seus pertences.
A "toilette" será reduzida e improvisada, a "douche" terá
que ser tomada sem fazer movimentos bruscos, o gabinete mal
caberá ele em pé.
Num acesso de fobia do claustro onde ele está instalado,
ele vai dar uma volta na rua para ter espaço – que seja ao
menos público.
Para descer ele pega o elevador - o prédio tem elevador!
- que foi embutido, como na maioria dos edifícios parisienses,
no lugar onde dantes havia o nicho vertical definido pela
escada. Isto significa que o elevador é sempre estreito, mal
cabe duas pessoas.
Pensando que o aperto acabou, o sujeito provável claustrófobo
incurável, ao pôr o pé na rua, vai se deparar com a multidão
de sempre logo após a grade do seu edifício.
Gente como bichos liberados de seus 30m2 trafegam nas calçadas
estreitas da rua du Faubourg du Temple nas proximidades da
praça République.
Ali, há mais aperto. O prefeito, socialista, preferido dos
caminhantes urbanos até que já tentou dar um jeito alargando
mais as calçadas da rua e diminuindo o espaço dos carros.
Os malditos carros, que têm menos espaço na urbe do que em
qualquer outra gestão passada. Nunca é o suficiente, a
calçada continuou estreita. Piorando com o estacionamento de
motos e motonetas por todo a extensão do pavimento.



Isso é proibido, mas como tudo que é proibido em Paris, estacionar motos nas calçadas é meio permitido.
O aperto aumenta com o tráfego, o tráfego!, de motos por
cima das calçadas. O nosso personagem até que tenta
argumentar - aos gritos e com mau francês – com o condutor
da motoneta ou da moto: "les troittoirs sont interdits aux
motos!". Mas para nada, em Paris os motociclistas estão se
lixando para os pedestres.

O nosso moderno claustrófobo urbano (pleonasmo certo,
claustrofobia deve ser distúrbio moderno e urbano - como ser
claustrófobo em meio aos prados?) continuando o seu trânsito
e tentando se livrar de uma crise decide pegar o metrô.
Já da plataforma dos trens subterrâneos ele verá que deu um
passo em falso, pois ela é mais estreita que as calçadas das
ruas e tem talvez mais gente, além de uns tantos cães metropolitanos.
Quando a composição chegar à estação, o erro estará confirmado:
os vagões são estreitos e, como sempre, lotados de bicho gente.
Se der a sorte de se sentar, será para compartilhar o aperto do
assento com seu semelhante (que deve morar também num 30 m2 e
estará ali fugindo do aperto das calçadas da urbe – isso é possível
de ver pela cara feia que faz).
Fato confirmado, não dá para sentar dois num assento para dois no
metrô de Paris, nem que sejam dois magros – quanto mais dois gordos.
Ele dará graças a um deus desconhecido quando chegar à sua estação.
E para sair será outro aperto.
Impossibilidade física, os que estão do lado de fora não querem
deixar os que estão dentro saírem antes de eles entrarem.
O resultado é um redemoinho de gente na porta do vagão e às vezes
xingamento dos que estão do lado de fora com os que estão do lado
de dentro e vice-versa. Em seguida, passagens estreitas, corredores
cheios de gente, escadas rolantes repletas.

Foto: Claudia Andujar

Fugindo da multidão, numa tarde de quinta-feira,
ele é feliz, porque nesta tarde de quinta-feira,
onde estão todos encarando compromissos, o único
compromisso que ele terá de encarar é a exposição
"Yanomami, l'esprit de la forêt" na fundação Cartier
no bulevar Raspail, no 14°“arrondissement”.
A exposição é um misto de documentário sobre os
Yanomâmis e obras de alguns artistas que foram à
aldeia mais visitada do território Yanomâmi –
Watokiri - do lado brasileiro.
Eles fazem uma espécie de "relato artístico"
sobre a experiência. É, na verdade, um dos objetivos
da exposição,mostrar como obras de artistas podem
reverberar com a cultura Yanomâmi.
O melhor, a meu ver, fica mesmo pelas seções mais
documentais da exposição.
Tome-se como exemplo o trabalho encomendado pela
fundação especialmente para a exposição a Raymond
Depardon, da Magnum.
Tela enorme em meio a uma sala
escura, dois vídeos de meia hora ao todo. Um deles mostra uma sessão xamanística, com a inalação de um po’ – Yãkoana - que tem efeitos alucinógenos. Longamente os xamãs aspiram
o Yãkoana e realizam uma cerimônia de cura. Sem palavras explicativas ou legendas, apenas imagem e som Yanomâmis e a familiarização do espectador com o Yanomâmi.
Aliás, essa parece ser a linha que guia a exposição: uma
sensibilização do espectador com o mundo Yanomâmi,
nada de didáticas escolares, falsos purismos ou
romantismos indígenas. Ela antes é uma abordagem
etnográfica que deixa o sujeito Yanomâmi falar e
apresentar-se sem que haja muitos subterfúgios.
Assim, é preciso ir à exposição com tempo, essa mercadoria
escassa, pois não há roteiros ou cronologias para se entrar
ou sair da exposição.
Veja esta sala com três enormes telas suspensas nas quais
a aldeia de Watokiri é mostrada em vídeos realizados por
Wolfgang Staehle.
A aldeia foi filmada durante 24 horas de três vistas diferentes, e os vídeos projetados deslizam as imagens com a lentidão atemporal que parece ter a vida na floresta para um espectador urbano. Tome-se também os sons vários colhidos por Stephen Vitiello dos Yanomâmis de manhã cedo indo ao rio e voltando à aldeia, de mulheres e
meninas cantando, de ruídos vários da floresta. E a exposição
tem também espaço para documentar a invasão que os
Yanomâmis sofreram dos povos d’além-floresta.
Num vídeo realizado por Volkmar Ziegler, que passou sete
meses vivendo com os Yanomâmis, por mais de duas horas os
Yanomâmis testemunham os fatos a partir das suas aldeias,
mostrando in loco como aconteceu a chegada de missionários,
soldados do exército e mineiros atrás de ouro.
Tem também as fotos de Claudia Andujar, uma das pessoas
que tiveram papel fundamental na demarcação do território
Yanomâmi.

Confira o site da fundação aqui:
Fundação Cartier

No primeiro andar, junto à livraria da fundação, uma tela
explora lentamente e com cuidado a geografia e topografia
Yanomâmis, a partir de dados de satélite, do território
delimitado pelo governo do Brasil em 1992.
As suas todas aldeias, uma a uma, os rios da região, as
minas e assentamentos ilegais, as estradas que se tentou
passar pelo território.

"Yanomâmi" significa no dialeto Yanomâmi "seres humanos".

Esta exposição, antes de somente fomentar uma reflexão
sobre o modo de vida Yanomâmi, imprime no visitante
um olhar crítico e até inquieto
sobre a sua própria maneira de viver na cidade moderna.

dimanche 8 avril 2007

Show de Lenine


Ontem, sàbado, à noite,
show de Lenine.
Nem preciso dizer que
foi muito bom. Novos arranjos,
e um trio de metais que imprime
uma cor fabulosa às músicas.
Lenine foi aplaudido de pé
pelo teatro inteiro durante vários
minutos e teve que voltar duas vezes
pro bis.

O show foi no encerramento do festival
chamado "Banlieues Bleues", que
significa aqui pra gente "Surbúbios
azuis". Os concertos deste festival são
sempre realizados em teatros localizados
nos subúrbios de Paris. Isso para incentivar
as pessoas a visitarem lugares que elas
nunca iriam se não fossem precisamente
esses concertos.

A curiosidade do show de Lenine ontem
ficou com os nomes das ruas e praças da
cidade - Bobigny.
Para chegar ao teatro, "maison de la culture",
passa-se pela avenida Salvador Allende.
O endereço do Teatro é "boulevard Lenine, n. 1".
Mais à frente, há o bairro "Karl Marx",
com um estacionamento, uma praça e uma escola de
mesmo nome.
É que, ali, as prefeituras têm sido ocupadas
sem muita interrupção por prefeitos e
câmara comunistas.

Como um último comentário,
foi ali um dos subúrbios onde
aconteceram
as manifestações de 2005
com os incêndios de automóveis.

Mais de dez mil livros


Ontem, 7 de abril, um sábado [muito] primaveril.
Sol forte e brilhante e um frescor
típico desta época aqui.
As árvores estão acordando da longa noite
invernal e começam a mostrar as suas folhas
e flores de novo.
Fim de semana da páscoa = fim de semana de turistas.
Hordas de turistas estorvam as ruas centrais
da cidade.
No meio disso tudo, rue Beaubourg, próximo
ao centro G. Pompidou (que gosto mais de chamar
de "Beaubourg" mesmo), uma loja de discos, dvds
e livros usados anunciava:
"mais de dez mil livros no subsolo".

Paris de bicicleta II

Voltando a esse tema, hoje no caderno "Mais!"
da folha de São Paulo tem um manifesto irado
de um cineasta que mora em Paris sobre o planejamento
da cidade:
Na pior em Paris
Mas, apesar de se dizer ciclista
na cidade, os seus comentàrios vão em favor
da circulação dos automòveis.
Coisas do tipo:
"[...] se eu saio de minha casa no domingo,
não posso virar à esquerda porque é contramão;
e à direita, a 50 metros, a rua está bloqueada
pois nesse dia só os ciclistas podem usá-la.
Eu nunca fui avisado nem consultado; esse decreto
divino me obriga a ziguezagues aberrantes para ir
aonde preciso".
Imagino que a circulação para os automòveis deve
estar mesmo um inferno com todo esse aumento
do espaço para pedestres, ônibus e bicicletas.
Disse "imagino" porque não sei na pràtica como
é, não tenho carro nesta cidade, nem preciso
dele. De metrô, de ônibus, de bonde, de trem, a pé,
de bicicleta é muito mais fàcil e relaxado.
Ele também escreve sobre coisas que desconheço por aqui,
como abordagem de policiais a pedestres que atravessam
a rua em lugar errado. Hà, de fato, um certo exagero em
tudo o que ele diz, com exceção do que diz sobre as motos e
motonetas, que invadem as calçadas sem a menor cerimônia,
isso com a complacência da polìcia.

vendredi 6 avril 2007

Paris de bicicleta

A cidade de Paris está sendo modificada
radicalmente no sentido da circulação de
automóveis pelas suas ruas.
A prefeitura tem trabalhado duro e gasto
muito dinheiro para aumentar o espaço
para os pedestres, sobretudo, e para
uma melhor circulação de ônibus e
bicicletas. Isso tudo contribui, claro,
para a ira daqueles que não conseguem
deixar o automóvel em casa e vêem
o espaço reduzido para circular
suas máquinas de lata.

Nesta modificação da cidade está
incluído o alargamento das calçadas
(e o conseqüente estreitamento das ruas),
a criação de corredores exclusivos para os ônibus,
que hoje circulam com mais rapidez, e
a criação e ampliação das ciclovias
por toda a cidade.
Mas, como nada nunca são somente flores,

as ciclovias são constantemente invadidas
por carros e motos.
Publico aqui uma série de fotos destas
ciclovias que existem em Paris e o que
acontece no seu cotidiano.
Voltarei ao tema com freqüência.



 
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