mardi 3 juin 2008

primavera

o tempo passa, o tempo passa na minha cabeça que bole,
que sai por aì pra ver coisas,
saudade é um sentimento estranho, pois que tem a ver com espaço,
e tem a ver com o tempo.
saudade é uma maneira de estar no mundo e de
confundir tempo e espaço, problema de
integração dos dois dados do mundo, dirão certos
especialistas em cognição,
mas sò quem tem saudade sabe do que se trata,
e saudade tem graus de variância, saudade maior e
saudade menor, as saudades se misturam na cabeça,
e o ser vai se definindo assim, saudade sobre saudade,
que se redobram umas sobre as outras e se apagam,
e se somam, e se renomeiam,
e se sobrepõem se confundindo, mascarando umas as outras.
saudade não se escreve em inglês, nem em francês,
saudade não se escreve em documentos oficiais,
em papéis, em carimbos, em duplicatas com a firma reconhecida...
a saudade não existe na burocracia oficial, nos papéis timbrados
deixados em pastas bem-mal arrumadas e organizadas,
as saudades se escrevem em papel de pròprio punho,
em làgrimas borrando a tinta da caneta que as escreveu,
as saudades se escrevem nas làgrimas limpadas assim
como se não tivessem lugar em camisas brancas e suadas,
as saudades vão se escrevendo em pequenos atos e destratos
pela vida afora, a saudade é aquilo que preenche espaços,
e por preencher espaços (que existem, que existem)
as saudades são sòlidas, e são saudades de coisas
sòlidas: uma voz, uma mão a enfatizar um pensamento,
um gesto que identifica uma presença, um rosto que sorri
e um rosto que chora, saudades são saudades de mùltiplas coisas,
antes de serem saudades de uma coisa sò.
saudades são sòlidas, mas saudades não se perdem, são invisìveis,
não se vêem, apesar de sòlidas e constantes e presentes,
saudades são o que fica,saudades são o que nunca irà,
saudades são o sucedâneo (esta palavra aprendi com ele, me lembro do momento
exato em que a aprendi),
saudades são o sucedâneo da coisa em si,
saudade não passa de saudade, mas como dòi!

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