lundi 23 avril 2007

Eleições III

Democracia é uma forma de regime político que dá trabalho.
O cidadão tem que se preocupar com quem pretende ocupar os postos do governo, tem que sair de casa pra colocar seu voto na urna, depois tem que se preocupar com os resultados, e, quando o governo toma posse, o cidadão precisa estar de olho no que estão fazendo. Por tudo isso, a democracia parece ser uma coisa caótica, onde todos que tomam posse parecem só fazer besteira. É por isso que muita gente prefere um governo autoritário, que cuide deles, um governo que tenha uma aparência de ser mais "limpinho", onde as coisas não pareçam tão confusas e um Estado onde não se precise fazer tantas escolhas.

Aqui, Paris, domingo de tensão, tensão sobre os resultados, que finalmente excluíram o gaulês de ultra-direita, que se diz o verdadeiro francês. Ora, pra mim, que sou estrangeiro por essas bandas, o espírito francês que vejo predominar aqui é o da abertura para o mundo, o francês está interessado com o que se passa além fronteiras, é uma cultura aberta, a francesa, e trata-se de um povo que tem muito o que dar ao mundo. Por isso, esse candidato de extrema-direita cheira a mofo porque quer uma França isolada, isolada até da própria Europa, ora vejam só. E taí o resultado dele, uns míseros 11 por cento, e a maioria destes que votaram no sujeito é composta provavelmente de pessoas que votam por um certo protesto. Também votam nele por ele ser bom de tevê, ele vem e diz um monte de sandices, mas de uma maneira que convence o telespectador. Sempre foi assim na história desse mundo, o melhor contador de histórias leva as batatas. Desta vez, ele angariou algumas e voltou pra casa.

Para o segundo turno, então, temos a candidata dos socialistas e o candidato que todos chamam de "conservador". Como, conservador? O que ele não quer é justamente conservar, e conservar o que a França tem de melhor. E o melhor, por estas paragens quer dizer, dentre outras coisas, o acesso de todos a uma ótima educação, e que tem muito a melhorar; é um Estado previdência, que apesar de precisar de certas reformas, pra este candidato ele não existiria. Curioso, pois que a influente revista britânica "The Economist" apóia esse candidato da direita justamente pelo seu potencial reformador. Essa revista tem nos seus pressupostos a diminuição do Estado a um tamanho mínimo, a redução conseqüente do monopólio estatal e o aumento da competitividade da economia. Assim, este candidato seria perfeito para executar as reformas necessárias à França, segudo a revista.
Mas, aqui pra nós, é uma coisa amedrontante uma plataforma política que pretende mais polícia e menos educação. Uma plataforma política que quer a universidade trabalhando em pesquisas "produtivas" - pesquisas que sejam criatórios de dinheiro - e não pesquisas como livre exercício da mente humana para a compreensão do mundo.
E é amedrontante uma plataforma política que tem menos em conta o povo que mora em subúrbios desfavorecidos.
Uma país precisa é de mais educação, mais livros, mais cultura, mais poesia, mais comida, mais espaços verdes, mais disso e menos de governantes interessados na sua própria classe social. Haja vista o nosso caso no Brasil.
Esperemos pelo segundo turno.

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